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Eu quero fome e sede

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“Não quero faca, nem queijo. Quero a fome.” É assim que encerra o poema “Tempo”, da poeta Adélia Prado. "Você pode levar um cavalo até o rio, mas não pode obrigá-lo a beber água" . Este provérbio é descomplicado, o cavalo só irá beber água, se estiver com sede. É preciso ter fome e sede para verdadeiramente vivenciar uma escola inovadora e criativa. É preciso ter fome e sede para perceber o brilho nos olhos, nos fazeres, nos viveres e para sentir uma escola que pulsa vida. É preciso se despir de tudo que se conhece sobre escola e ir livre de todas as amarras burocráticas. É preciso ir feito criança... com a sua criança. Trago um convite, em forma de perguntas, ao encantamento e à inquietação, para aguçar a percepção dos processos, das rotinas, das relações humanas, das interações, das práticas, das aprendizagens significativas e da autonomia com responsabilidade. ROTEIRO (dia, semana, mês) - Quem faz o roteiro do dia, é o adulto, ou a criança? Quando é feito o roteiro? - O r

Mendes, 14 de novembro de 2043 - por José Pacheco

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O Encontro Nacional dos Românticos Conspiradores se aproximava e as palavras da nossa amiga Tina davam o mote para o que nesse ENARC viria a ser esboçado: uma nova construção social de aprendizagem. Escutêmo-la, num saboroso texto datado de novembro de há vinte anos: “Anísio Teixeira é o “pai da escola pública”, dizia que a escola não deveria adestrar alunos para passar em testes. Foi assassinado. Paulo Freire combateu a educação bancária. Foi perseguido e exilado. Maria Nilde Mascellani defendeu a integração entre escolas e território. Sofreu difamação e foi perseguida. Rubem Alves defendeu escolas que são asas e combateu escolas que são gaiolas. Foi perseguido e exilado. Pestalozzi, educador da humanidade, defendeu que a aprendizagem parte do concreto para o abstrato. Foi humilhado. Darcy Ribeiro defendeu a democratização do ensino público. Foi perseguido e fracassou em tudo que fez. Atuar pela transformação da educação é uma profissão de risco, pois mexe com as estruturas de poder.

O desserviço das “boas práticas”

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As "boas práticas" são fábricas de “cortina de fumaça”. A “cortina de fumaça” é sempre rosinha, cheirosinha, atrativa e confortável, mas nos impede de ver o que realmente precisa ser tratado.  Ela usa o tempo, desvia o foco e gasta energia no que não vai trazer solução, por isso chamamos as “boas práticas” de paliativos, pois faz que pessoas de boa fé se dediquem, mas a frustração vem, pois uma hora a fumaça passa.  Em 2017, mesmo com as Metodologias Ativas sendo uma modinha do passado, eu tive que fazer mais uma especialização sobre o assunto.  Era notório que os docentes da formação tinham decorado bem o conteúdo a ser ensinado.  Uma lista enorme de Metodologias Ativas era exposta no PowerPoint, e o que mais chamava a atenção, era que nem 10% daquelas supostas metodologias ativas, colocariam de fato, os estudantes na posição ativa da aprendizagem. Em quase todos os exemplos, tudo era controlado pelo professor. Ao término dos módulos, eu perguntava ao docente quem era o ativ

Pacto Nacional por Andar na Idade Certa

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(contém ironia neste texto) Aprender a andar passou a ser de responsabilidade das escolas e elas resolveram adotar o mesmo processo usado para alfabetizar. Toda criança tinha o direito de aprender a andar aos 12 meses. Em 6 de fevereiro de 2006, a idade passou a ser de 11 meses. Aos 9 meses de idade, toda criança tem o direito de começar a ter os primeiros contatos com o sapato e a compreensão do mecanismo funcional dos pés. O Ministério da Educação implantou o Pacto Nacional por Andar na Idade Certa. O objetivo do programa é proporcionar mobilidade do andar a todas as crianças, ao final do 12º mês de vida. As primeiras tentativas de ficar em pé, passaram a ser marcadas por inúmeras correções. E assim, a cada passo cambaleante das crianças, elas escutavam: Presta atenção! Posiciona corretamente este pé! Olha para o chão! Mantenha o equilíbrio! Para de tropeçar! Anda direito menino! Para de se apoiar na parede. Repita este movimento 20 vezes. Acho que essa criança precisa ser laudada e

A triste plaquinha de BANHEIRO

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Era uma sala de aula de crianças pequenas. Um grupo de 15 crianças, entre 5 e 6 anos. Elas estavam “presas” em carteiras duras, fazendo algum dever que lhes foi imposto. Obedientes e controladas.   Um garotinho me chamou a atenção, ele destoava das outras crianças. Seus olhos brilhavam, seu sorriso era lindo, mas apesar de solto, não conseguia contagiar os amiguinhos. Somente ele iluminava. Seu corpo de mexia, mas continuava contido no seu lugar.   Eis que se descola da carteira uma garotinha. Em seu profundo silêncio e com passos cautelosos, ela segue rumo a um crachá pendurado em um prego, próximo a porta de saída. Um barbante longo e uma plaquinha estampava a figurinha de uma menina e logo abaixo, escrito bem grande: BANHEIRO. Ela chega sem se apresentar, estende a plaquinha para nos mostrar e com o tom de voz contido, diz: esta é a plaquinha do BANHEIRO. Eu paralisei naquele olhar profundamente entristecido.  As sobrancelhas estavam tão caídas, que forçaram um vinco entre elas.  Vi

A escola revelada pela pandemia

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Vejo muitas matérias de especialistas que relatam o prejuízo causado pela pandemia aos estudantes. Algumas matérias chegam a afirmar que o ano escolar perdido, ameaça afetar o futuro profissional desses alunos. Também encontrei uma matéria com o relato de um pai que dizia que longe das escolas, os filhos estão perdendo a capacidade de concentração. Vamos verificar alguns dados que vêm ameaçando drasticamente o futuro profissional dos estudantes brasileiros: - 91% dos alunos que concluíram o ensino médio, não apresentam um conhecimento adequado em matemática. - 52% das pessoas com idade entre 25 e 64 anos não concluíram o ensino médio. - 78% dos universitários não são plenamente alfabetizados - O PISA do Brasil está entre as mais baixas notas do mundo. Enquanto muitos estão preocupados com um ano escolar perdido, eu me preocupo com 12 anos perdidos, ou quem sabe os últimos 40 anos de sistema escolar perdidos.   A pandemia desnudou uma realidade que há muito tempo é apresentad