O desserviço das “boas práticas”

As "boas práticas" são fábricas de “cortina de fumaça”.

A “cortina de fumaça” é sempre rosinha, cheirosinha, atrativa e confortável, mas nos impede de ver o que realmente precisa ser tratado. 

Ela usa o tempo, desvia o foco e gasta energia no que não vai trazer solução, por isso chamamos as “boas práticas” de paliativos, pois faz que pessoas de boa fé se dediquem, mas a frustração vem, pois uma hora a fumaça passa. 


Em 2017, mesmo com as Metodologias Ativas sendo uma modinha do passado, eu tive que fazer mais uma especialização sobre o assunto. 

Era notório que os docentes da formação tinham decorado bem o conteúdo a ser ensinado. 

Uma lista enorme de Metodologias Ativas era exposta no PowerPoint, e o que mais chamava a atenção, era que nem 10% daquelas supostas metodologias ativas, colocariam de fato, os estudantes na posição ativa da aprendizagem. Em quase todos os exemplos, tudo era controlado pelo professor.

Ao término dos módulos, eu perguntava ao docente quem era o ativo naquelas metodologias. Uma das docentes mais experientes e corajosa, após eu afirmar que aquilo não se tratava de metodologias ativas, mas de “boas práticas”, ela olhou firmemente para mim e disse: “Olha o perfil dos nossos professores. Você não acha que “boas práticas” é um grande avanço?”


“Talvez a origem do insucesso escolar e de múltiplas tragédias estivesse nas práticas impostas pelo sistema de ensino. Talvez encontrássemos no trabalho de sala de aula prussiana a causa última. Infelizmente, havia professores cujas “boas práticas” contribuíam para criar uma “cortina de fumaça”, que não deixava ver quanta violência simbólica cabia nos prédios feitos de salas de aula e a que, indevidamente, chamavam ‘escola’.” [José Pacheco, São Paulo, 21 de outubro de 2043]


. A professora grita para todos prestarem atenção na aula de empatia, pois vale nota.

. A repetição para a decoreba de conteúdo para a prova, virou game.

. Eliminaram a poeira do giz, mas mantiveram o instrucionismo e conteudismo na tela digital.

. A Metodologia, continua deixando o professor Ativo (detentor do saber). Ele planeja, cria o roteiro, traça os objetivos, monta o cronograma e seleciona os textos.

. A tentativa frustrada de inclusão é garantida, em escolas padronizadoras, pois elas são excludentes em sua origem.

. A palestra de combate ao bullying, é seguida pela competição acirrada no futebol. Três crianças foram para o pronto socorro e uma fraturou a perna.

. E tem quem chame o turno com contraturno, de educação Integral. 

. Trocar o nome da prova para avaliação, não vai transformá-la em contínua, sistemática e formativa, como manda a lei. 


“Em finais de 2023, era por demais evidente a necessidade de transitar de um obsoleto sistema de ensino para um novo sistema de aprendizagem, do autoritarismo prussiano passar à democratização, substituir um modelo imoral e corrupto por uma construção social de aprendizagem humanizada, ética. Há muito tempo já, o Mestre Pedro denunciava as péssimas condições da escola instrucionista.” [José Pacheco, Cabrália, 18 de outubro de 2043]


Em escolas de salas de aula seriadas, com ensino padronizado, conteudista e instrucionista, com crianças emparedadas, enfileiradas e uniformizadas, com saberes fragmentados em matérias, apostilas e materiais didáticos com uso padronizado e sequenciado, com professores isolados, controlados, controladores e detentores do saber, as “boas práticas” como: educação socioemocional, inclusão, combate ao bullying, projeto de vida, escuta empática, gamificação, robótica, maker, tecnologias as mais diversas, metodologias ativas e educação integral, não passam de “cortina de fumaça”, são paliativos que tiram o foco do que realmente precisa ser modificado nas estruturas do sistema educacional. 


Será que é ignorância ou desonestidade?


“Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não vou me resignar nunca.” [Darcy Ribeiro]


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Imagem: pixabay.com - @magwood_photography


Textos do prof. José Pacheco em @jpacheco.1951


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