Mendes, 14 de novembro de 2043 - por José Pacheco

O Encontro Nacional dos Românticos Conspiradores se aproximava e as palavras da nossa amiga Tina davam o mote para o que nesse ENARC viria a ser esboçado: uma nova construção social de aprendizagem. Escutêmo-la, num saboroso texto datado de novembro de há vinte anos:

“Anísio Teixeira é o “pai da escola pública”, dizia que a escola não deveria adestrar alunos para passar em testes. Foi assassinado.

Paulo Freire combateu a educação bancária. Foi perseguido e exilado.

Maria Nilde Mascellani defendeu a integração entre escolas e território. Sofreu difamação e foi perseguida.

Rubem Alves defendeu escolas que são asas e combateu escolas que são gaiolas. Foi perseguido e exilado.

Pestalozzi, educador da humanidade, defendeu que a aprendizagem parte do concreto para o abstrato. Foi humilhado.

Darcy Ribeiro defendeu a democratização do ensino público. Foi perseguido e fracassou em tudo que fez.

Atuar pela transformação da educação é uma profissão de risco, pois mexe com as estruturas de poder. Quem quer uma população com pensamento analítico, crítico e criativo?

É uma profissão de risco, sujeita a perseguição, conchavo, humilhação e difamação, manipulada por quem tem poder, por invejosos maus-caracteres, mais interessados em “sair bem na foto”, do que em, verdadeiramente, transformar a educação.


Em escolas de salas de aula seriadas, com ensino padronizado, conteudista e instrucionista, com crianças emparedadas, enfileiradas e uniformizadas, com saberes fragmentados em matérias, apostilas e materiais didáticos com uso padronizado e sequenciado, com professores isolados, controlados e controladores, se reproduz a educação bancária, permanecendo os professores os detentores do saber, com “boas práticas” como: educação sócio emocional, inclusão, combate ao bullying, projeto de vida, escuta empática, gamificação, robótica, maker, tecnologias as mais diversas, metodologias ativas e educação (em tempo) integral… “Boas práticas”, que, não passam de “cortina de fumaça”, paliativos que desviam o foco do que realmente precisa ser modificado nas estruturas do sistema educacional.

Será que é ignorância ou desonestidade?


A cada 100 adolescentes que concluem o Ensino Médio, somente 5 apresentam níveis satisfatórios em matemática. 95% dos alunos terminam sem o conhecimento esperado de matemática.

É básico para qualquer pesquisador saber a diferença entre uma pesquisa qualitativa da quantitativa. A educação deve ser a única instituição que mede a qualidade pela quantidade, fazendo do volume uma falsa demonstração de qualidade. São investidos milhões com palestras, formações continuadas, materiais didáticos, equipamentos tecnológicos etc. E a Educação continua como sempre foi.

Os paliativos são muito desejados pelo poder público, pois trazem um floreado suave, agradável e a certeza da preservação de todos na Zona de Conforto. Servem para disfarçar o desperdício de vidas e a morte de potências criativas.

Quantas crianças alegres, curiosas, exploradoras, viraram bagaços humanos na adolescência, desinteressados, depressivos e com pensamentos suicidas?

Quantos professores sonhadores, idealistas e com muita garra, adoeceram ao se perceberem péssimos aplicadores de apostilas?

A educação está escandalosamente custosa de vidas.”


Vinte anos decorridos, me apercebo de que o texto da amiga Tina poderia ser utilizado como documento-base do encontro, pois era como um “grito de alerta” de alguém que dedicara toda a sua vida ao bem-estar da infância desvalida.


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