A triste plaquinha de BANHEIRO

Era uma sala de aula de crianças pequenas. Um grupo de 15 crianças, entre 5 e 6 anos.

Elas estavam “presas” em carteiras duras, fazendo algum dever que lhes foi imposto.

Obedientes e controladas.

 

Um garotinho me chamou a atenção, ele destoava das outras crianças. Seus olhos brilhavam, seu sorriso era lindo, mas apesar de solto, não conseguia contagiar os amiguinhos. Somente ele iluminava. Seu corpo de mexia, mas continuava contido no seu lugar.

 

Eis que se descola da carteira uma garotinha. Em seu profundo silêncio e com passos cautelosos, ela segue rumo a um crachá pendurado em um prego, próximo a porta de saída. Um barbante longo e uma plaquinha estampava a figurinha de uma menina e logo abaixo, escrito bem grande: BANHEIRO.

Ela chega sem se apresentar, estende a plaquinha para nos mostrar e com o tom de voz contido, diz: esta é a plaquinha do BANHEIRO.

Eu paralisei naquele olhar profundamente entristecido. 

As sobrancelhas estavam tão caídas, que forçaram um vinco entre elas. 

Vi o meu reflexo naquele olhar angustiado.

Fitei meus olhos naquele rosto e, como se fosse possível disfarçar a minha aflição, sorri amarelo. 

Meu amigo se curva e pergunta o nome da garotinha. Minha memória fraca não permite que eu lembre seu nome.

Enquanto sua boca ditava as regras para uso da plaquinha do BANHEIRO, seus olhos gritavam sofrimento daquele lugar adoecedor.

 

Qual foi a motivação daquela pequena criança?

Por que a plaquinha do BANHEIRO?

Será que aquela aproximação foi um pedido de socorro? 

 

Assim como a garotinha chegou, ela se foi. Cautelosamente devolveu a plaquinha no prego próximo a porta e, sem olhar para trás, voltou a sua carteira gelada e abaixou os olhos. 

 

Por que alguns adultos fazem com os filhos dos outros o que não gostaria que fizessem com seus próprios filhos?

Por que é tão difícil ter empatia pelas crianças?

Como reagiriam os adultos, se fossem obrigados a andar com uma plaquinha escrito BANHEIRO pendurada no pescoço?

  

Um sistema educacional ineficiente precisa de gestores e professores controladores, para maquiar sua inutilidade.

 

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Imagem: pexels.com - Ahmed akacha

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