A informação, o diploma e o aprendido

Rubem Alves pensava em propor um novo tipo de professor. "É um professor que não ensina nada. [...] O objetivo da educação não é ensinar coisas, porque as coisas já estão na internet, estão por todos os lugares, estão nos livros. É ensinar a pensar.” ¹
Vamos refletir sobre o quão conectados estão: a informação, o diploma e o conteúdo aprendido.

INFORMAÇÃO – Definição: “Reunião dos conhecimentos, dos dados sobre um assunto ou pessoa.”; “[Informática] Reunião dos dados que, colocados num computador, são processados, dando resultados para um determinado projeto.”²

Muitas escolas e universidades ainda acreditam no velho e comprovadamente ineficiente sistema instrucionista, conteudista e fabril, tendo como instrumentos a ensinagem do professor, a memorização para o acúmulo volumoso de informações, e chamam tudo isso de ensino/aprendizagem.

Até os anos 80 e início dos anos 90, a memorização de conteúdo era valorizada e aparentemente importante, pois o acesso a qualquer informação dependia de livros, de enciclopédias ou do saber alheio. Se deslocar até uma biblioteca para fazer um trabalho da escola, era muito comum.

Lembro-me de um serviço de pesquisa prestado pela Folha de São Paulo da década de 70/80. Era simples e eficiente, mas podia levar horas para conseguir todas as informações necessárias. Bastava ligar para o telefone divulgado, comunicar ao atendente o tema da pesquisa e esperar... Esperar bastante, às vezes. Ele tinha alguns meios de informação: 1. Os arquivos da própria Folha de SP; 2. Uma boa biblioteca; 3. Enciclopédias. Aguardávamos no telefone até o atendente voltar com os livros. Ele ditava páginas e mais páginas de informações e tínhamos que copiar tudo. Era normal passar 3 ou 4 horas no telefone.

Hoje, qualquer informação desejada, é facilmente encontrada na internet, através do celular e basta “dar um Google”. Qual o sentido de memorizar volumes enormes de informações, se o Google pode fazer isso de forma muito mais competente e ágil? Não sou contra a memorização daquilo que é útil e necessário para a vida e para desenvolver projetos reais. A forma como vejo valor na memorização, será explanado logo mais.

DIPLOMA – Definição: “Documento oficial ou particular de conclusão de cursos em colégios, academias, universidades: diploma de bacharel, diploma de médico.”²
O que falar sobre o diploma? Desejo supremo de todo estudante. Como professora universitária, sei que boa parte dos meus alunos tem verdadeira adoração pelo papel que comprovará o termino do curso. Percebo que o fetiche está muito mais ligado ao “se livrar da faculdade”, do que na comprovação da aquisição de uma bagagem de conhecimentos e aprendizados da profissão escolhida.
Uma vez li o relato de um processo seletivo de uma mocinha, onde em seu currículo constava “inglês avançado” e citava a escola que havia lhe dado o diploma. Em certo ponto da entrevista, o recrutador pergunta se ela fala inglês, e como resposta ela cita a quantidade de anos que passou em uma renomada escola de idiomas. O entrevistador repete a pergunta, só que dessa vez em inglês. A mocinha fica em silêncio e a entrevista termina rapidamente.
Qual o valor de um diploma? O tempo despendido na instituição de ensino ou os aprendizados adquiridos efetivamente? Um diploma sem aprendizado, não tem valor algum.

O APRENDIDO – Definição: “Que se aprendeu, que passou a ter conhecimento e conseguiu assimilar esse conhecimento; assimilado, entendido, estudado: conteúdo aprendido.”²
O aprendido não é o conteúdo que o professor deu em aula, muito menos o tema da questão acertada na prova, nem obrigatoriamente está ligado ao seu diploma.
Gosto muitos dos estudos de William Glasser sobre como adquirimos aprendizados e me chama a atenção que as duas formas mais eficientes para aprender são: fazendo e ensinando os outros.
Sendo assim, eu entendo de forma simples o aprendido: é tudo aquilo que você é capaz de dizer: “pode deixar que eu faço”, "quer que eu te ensine?". E você faz de forma autônoma. Para chegar neste ponto, envolveu curiosidade, interesse, troca, erros e acertos, desejo de aprender e empenho para adquirir o conhecimento.
Note que a memorização nem faz parte da pirâmide de Glasser, mesmo assim vejo muito valor na memorização de informações no desenvolvimento de projetos práticos. Entendo a memorização como consequência da aprendizagem e não como um meio para chegar até ela.

O que nos falta não é informação, nem diploma, mas sim o conteúdo aprendido.

_____

¹ https://youtu.be/00dtcU4IkeE
² Fonte das definições: www.dicio.com.br

Links relacionados: A professora que não ensinava‘nada’ e ‘Ensinagem’ é o ópio da educação

Ilustração de João Vaz de Carvalho

Deixe seu comentário ou dúvidas.


Comentários

  1. Essencial no aprendizado é SABER DESENHAR!!
    Anotar coisas enquanto estuda, lê ou se assiste palestra, também ressalto.

    ResponderExcluir

Postar um comentário