Confissões de uma professora malévola

Onde já se viu uma professora confessar que sente prazer com o sofrimento de seus alunos? E ela ainda expressa sua satisfação enquanto seus alunos contraem seus músculos faciais e transmitem dor em seu tom de voz. Sua alegria é tão descontrolada, que muitas vezes ela solta uma gargalhada no meio do sofrido relato.

Com o passar dos anos, ela tem descoberto novas estratégias para ser cada vez mais malévola.... Com muito orgulho, eu sou assim.

Antes que você me julgue e acenda uma fogueira para me queimar em praça pública, deixo claro que este texto é sobre processos de aprendizagem e farei este percurso contando fatos recentes.

CAUSO REAL
Era um excelente grupo de alunos, que teve uma incrível ideia de projeto. Não faltava inteligência, conhecimento, capacidade e habilidade para aqueles jovens. Eles tiveram quase dois meses para desenvolver o projeto, mas semana após semana, vinham para as orientações de mãos abanando. O tempo foi passando e quando faltava uma semana para a entrega final do projeto, com a delicadeza de um tijolo, apresentei um enorme espelho imaginário e mostrei o que nele refletia: um grupo de alunos com competência para grande evolução de aprendizagem, mas acomodado na soberba ilusória dos imaturos.
Após uma semana, na data correta da entrega final do projeto, o grupo trouxe um lindíssimo projeto, com acabamento impecável, que foi recomendado para premiação.
No semestre seguinte, por coincidência, voltei a dar aula para a mesma turma deste grupo e no meio do semestre, com outro projeto em andamento, o grupo revela as angustias geradas pela pressão que fiz no semestre anterior: "professora, passamos 48 horas em claro para fazer o projeto do semestre passado. Depois daquele 'tapa na cara' que a senhora deu na gente, não poderíamos entregar qualquer coisa".
Que satisfação incontrolável sinto ao ver meus alunos sofrendo para fazer um bom projeto.

Quanta aprendizagem envolvida. Quantas frustrações, tentativas e erros, fazeres, desfazeres e refazeres. Quanta pesquisa, leitura e busca por referência. O processo para aprender algo novo, nunca acontecerá na Zona de Conforto. De dar lacinho no tênis, a solucionar uma fórmula de alta complexidade, requer passar com coragem, determinação e persistência pela Zona do Medo, a enfrentar angustias e aflições, erros e fracassos. 
Satisfação, realização, orgulho, autonomia, maturidade, crescimento e conquista são encontradas na Zona de Aprendizagem e depois na Superação.
Quando percebo que meus alunos saíram da Zona de Conforto, enfrentaram com grandeza a Zona do Medo e chegaram até a Zona de Aprendizagem, sempre abro um sorriso largo e digo: "Que bom! Fico feliz em saber que vocês sofreram, persistiram, superaram e aprenderam coisas novas". Apesar dos relatos serem bem angustiantes, é somente por esses momentos que ainda vale a pena acreditar na educação. 
Se o meu objetivo é que meus alunos aprendam coisas novas, eles não poderão fraquejar no primeiro obstáculo, nem poderão esperar um processo suave e sem fadiga.


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Comentários

  1. Sem dúvida, o processo de aprendizagem ativa demanda tudo isso. Infelizmente, também há um contingente que prticamente paga escola, mas não para aprender. Professores ousados (=malévolos) sabotam este sistema. Alunos mais ousados ainda, não aceitam menos do que isso. Aprender, implica, esticar-se e, como se sabe, esticar, mesmo que pouco, incomoda e dói.

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